Talvez ali mesmo, naquele momento em que o tempo fez sobre o novo os seus estragos, e tudo tem sinais de vida espessamente vivida, naquele local em que a imperfeição marca, com a assimetria e o incompleto, a incerteza humana e o erro, eu pudesse ter ficado.
Fora num longínquo Verão. Chegámos com um vogar manso da ondulação, a turbina num ralenti que tornava quase imperceptível aquele vogar macio da embarcação até à amurada. Depois veio a noite e com ela o recolher solar, sentados em silêncio em torno do sentido vago dos pensamentos até se nos esgotarem as pálebras.
Hoje é um quadro numa parede, a da saleta que se ignora ao passar. Poderia ter sido um local onde a felicidade me encontrasse. Mas sou feliz aqui, mesmo ante este excerto do que fui.
«Triste, não é?», perguntou-me, pela primeira vez sentida, aquela que deveria ser a minha aluna, houvesse algo que eu pudesse ensinar-lhe e me fosse permitido. «Um pouco», respondi, evitando fitá-la, adivinhando-lhe dos olhos a intensidade. «Talvez a luz fira a alma», ainda murmurei, incerto já sobre o que dizia, o quadro a diluir-se na brancura da parede, a coloração a desmaiar sobre a imensidão do nada.