Encontrei-a no interior de um livro, o canto amarelecido pela exposição ao luz e ao pó, a fotografia. Há nela a rictus da obediência, aquela espécie de contracção muscular dos que não se compreendem nem aos intervalos da vida que lhes possibilitam o ser. São criaturas para quem o dia é estranho pela ferente luminosidade, o exterior adversário da interioridade a que se acolhem. E depois o tempo, que parece deixá-los eternamente idênticos, tornando-lhes mais do que antiquadas as roupas, ridículos os modos. Já não existem pessoas assim mas no entanto estas sobrevivem ao devir do tempo como se a vida lhes fosse dada a viver numa outra dimensão, suspenso o espaço.
Talvez tenha sido por sermos assim que eu sou aquilo que é. Olho-me, reconhecendo-me, e recolho o livro a um lugar ignoto, como se a sepultar a memória para que o futura tenha uma fresta de oportunidade de frutificar.