Poderíamos ter começado com as declinações do Latim. Ou com lições sobre a História da Transcaucásia. Ou mesmo com a taxonomia botânica de um herbário sobre folhas lanceoladas. Havia ali de tudo naquela imensa biblioteca, como um saber concêntrico de saberes circulares que nunca se encontravam, uma geometria dos infinitos planos paralelos. E eu teria que os preparar entra a cultura das Humanidades e das Mundanidades.
Arrisquei, naquela que era a minha primeira lição, uma primeira pergunta a fazer-se de inteligente: porque é que uma imagem entre dois espelhos, que estejam precisamente frente a frente, se multiplica até ao infinito? E, para que pela antecipação surgisse o paradoxo da resposta acrescentei como quem balbucia: «se é que o infinito existe...».
Tímido, refugiado por detrás de uns óculos espessos, o rapaz arriscou: «existe sim, até ao ponto em que já não o conseguimos alcançar com a vista». E talvez para me não deixar mudo de espanto, fez como quem emenda: «Tal como o horizonte, sobretudo visto com os olhos fixos no mar».
Gostaria de me recordar mais do que sucedeu nesse dia. Talvez a tristeza de o dia a acabar e não ter conseguido reconstrui-la, na minha cabeça, onde estaria a sua silhueta de aluna sequer, já nem digo a presença, naquele instante. Num recanto da longa mesa, copiava, indiferente, um longo exercício de verbos franceses, apenas pela maldade de a ter feito copiá-los, fustigando-me com a sua esperada ira.