quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Um fio na engrenagem

Foi seguramente uma breve sonolência, ou um desmaio, um hiato de inconsciência como quando se vai desta vida para uma outra, intervalando. E sonhei, profundamente, sem cores e dizem que os cães sonham sem cores ou já me confundo nisso, mas sonhei, um sonho de rejeição do que poderia ter sido depois de ser o que fui, um fio numa extensa engrenagem, tecnicamente sorridente e de colarinho branco, suficientemente anónimo sem ser impessoal, sobretudo eficiente. 
Acordei e estava no mesmo lugar só que com a boca pastosa como de uma bebedeira nocturna e a cabeça doía. 
Quantos instantes tinham sido e de quantos se faz uma outra pessoa? Era noite já na rua e nas entranhas de mim uma lua subia, inundando-me de ânsias.