segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A informe substanciação

Sentado, enfim, no quarto, na borda da cama, os sapatos aligeirados, o casaco nas costas de uma cadeira, afeiçoo os olhos à luminosidade. Entardeceu, mas não quis ligar o candeeiro da mesa de cabeceira, nem o do tecto, como se esperasse do dia seguinte a revelação do lugar. 
Coada pela penumbra, refractada pela luz de um candeeiro cravado no ângulo exterior da casa, chegam-me as silhuetas dos móveis, como sombras chinesas.
Nenhuma forma tinha recorte definido, nenhum espaço era definitivamente próprio. Neste diluir das substâncias continha-se o primeiro passo da minha viagem: tinha chegado ali carregado de um ser a que chamava eu. De ora em diante, meticulosa e dedicadamente, seria a terceira pessoa, o outro, que uma campainha convocaria e o ritual das horas certas moldariam a existência.
Sem que desse conta tinha anoitecido definitivamente.