sábado, 27 de agosto de 2011

A incontinente sensação

Foi então que à presença do lugar se sobrepôs a existência de pessoas. Em rigor eu não sabia ainda quantas iria encontrar naquela casa, nem quem seriam ou como me receberiam. À excepção de uma velha criada que me abrira a porta, com a naturalidade hirta de quem cumprisse uma liturgia há muito ensaiada, como uma ladainha. Creio que me terá murmurado um nome de modo suficientemente inaudível para que tendo-o dito eu ficasse inferiorizado por não ter conseguido fixá-lo. Seria talvez a única malícia que lhe restava, esgotadas todas as manhas na arte da servidão. 
Recolhido agora ali e quase na incerteza de ela ter sido real, sem porquê, no entanto, uma sensação nítida de feminino povoa-me o interior como se expectante de algum gesto meu que faltasse ou iniciativa, a porta entreaberta mais o mundo a haver para além dela, logo que fechada, com o segredo de um sem ruído, murmúrios abafados e incontidos.