domingo, 14 de outubro de 2012

A palidez da luz

 
O frio, seguramente o frio de Outono, gelar lento que nasce do interior da existência e vai abraçando o arrefecimento da Natureza, a rigidez dos corpos, a quietude.
Os passos em volta tornam-se sopesados, esconsos.
No piso inferior um mundo abafado permite ouvir o tic-tac do velho relógio, as horas a arrastarem-se. São dias breves, em que se vive pela noite extensamente, sob a luz quebrada de um candeeiro, amarelecida a própria vontade da escrita.
Ao longe um formigar de automóveis pela estrada, regressando, apressados, para longe.
Desço, silencioso, e abeiro-me da porta o suficiente para não sair. Sem abrir sequer o guarda-chuva, aquém, pois, da intenção.
Talvez envelhecer seja isto precisamente, o mundo desinteressar-se e toda a luminosidade tornar-se doridamente pálida.